sábado

Cortinas e cortinas

Metida comigo mesma, observo os outros. É um bom passatempo que para mim, já tem barbas. Observo os conceitos pessoais de cada um, como reage, o que é. Gosto da ideia de poder adivinhar o que está para além da cortina que todos tentamos impor. Não é propriamente uma tarefa fácil, mas persisto de bom grado.
Então, de trás da minha cortina, admiro a dos outros, coscuvilhando a complexa realidade de cada um. Há umas que condizem um pouco mais com minha, outras não. Há as mais agradáveis de observar, e outras nem tanto. É tudo um emaranhado de recordações, cheiros, sentimentos, emoções, sons e vozes. Cada uma tem o seu conceito. Um conceito pessoal, uma filosofia de vida.
Tento ainda relacionar cada pessoa à sua cortina, observo o que são em função da sua própria realidade. Reflicto, analiso e tiro conclusões. Depois procuro outra, sempre sem pressas. Por mais cortinas que eu espreite, nunca encontro nenhuma a que possa chamar de verdadeira. Tenho sérios problemas com a verdade e com a mentira. Ou talvez não. Aqui é verdade que sei distingui-las. A questão é que a verdade e a mentira, estas duas teimosas realidades que por mais que tente não parecem querer unir-se, mudam radicalmente consoante a cortina.Ainda realativamente a cada cortina, a verdade e a mentira podem mudar constantemente só porque lhes apetece, sem deixarem aviso prévio. É algo complicado. Acho que deve ser por não conhecer realmente a minha cortina, nem saber o que é a verdade e a mentira, que me divirto tanto a observar a dos outros.

Segredos

Todos temos segredos, por mais que tentemos ser transparentes há sempre alguma coisa a esconder. Eles aparecem porque não nos sentimos confortáveis com a verdade, com necessidade de a guardar só para nós. É aí que nasce “o segredo”.
Mas os segredos precisam de companhia, tal como a tristeza, o que é um problema. Porque quando já estamos inchados de segredos – aqueles que fazem companhia uns aos outros - começamos a sentir que vamos rebentar. Se não os contarmos depressa, nem que seja só um, só para aliviar, começa a custar mesmo muito. A responsabilidade de saber dos segredos tem um peso incalculável. É aí que decidimos dividi-lo com alguém.
Bons ou maus, os segredos, depois de contados, já são conhecidos. Já não há volta a dar. Eles já não precisam mais do suborno da companhia para se manterem calados.
Quando os nossos segredos se tornam conhecidos, já não temos de nos esconder mais por detrás deles. Só nos falta a coragem para aparecer.
Estamos sempre à procura de segredos. Não dos nossos, que guardamos cuidadosamente, mas os dos outros. É uma incontrolável caça aos segredos. Já carregamos os nossos, mas ainda sentimos a necessidade de carregar mais uns quantos. Não há descanso enquanto não encontrarmos um bom segredo.
Procuramos, procuramos, procuramos. Finalmente, quando os encontramos, temos duas saídas. (Paramos, respiramos e ouvimos)
O que acabamos de descobrir soa completamente inesperado. Porque é que demos tanto de nós atrás do segredo? Agora sabemos que era preferível nunca o termos sabido.