sábado




Onde andas tu minha Mar?








sexta-feira


está frio, muito frio. tanto que os meus lábios estão roxos, muito roxos.

quinta-feira


 julgo sinceramente que há quem pense que sou uma máquina - à notória falta de coração. eu digo ser antes recheio de defeitos e contradições

segunda-feira

amanhã é terça e as terças são boas. as terças têm almoço com a Mar e passeio pelo rato até ao meu adorado curso de desenho. Amanhã é terça e por isso a madu está feliz.









tuesdays' rock!

sábado


gosto de sonhar

quinta-feira




segunda-feira





e amanhã é o dia. esperei-te toda a semana, querida terça.

domingo





a noite acalma-me e, por alguma razão, desenhar deixa-me sempre acordada.

quarta-feira

o estômago andava às voltas e assim que me vi fora do carro, depois de hora e meia de trânsito para ir do lumiar à calçada da estrela, debati-me o mais que pude contra vento e chuva. anexo a, anexo a, repito para dentro. som engraçado, e a porta abre-se. passos largos no escuro,  umas escadinhas vermelhas indicavam o caminho. muito boa tarde, cumprimentou-me a rapariga que combinava um tímido e simpático sorriso com umas calças bastante giras. o pai falou, a rapariga falou - continuou a tagarelice. finalmente decide-se - filha, vejo que estás inteira e bem entregue, boa sorte- um beijinho. circundo a secretária. o soalho de madeira, pintalgado de mil tons, portas brancas abertas que covidam a procura a salas arejadas, um ambiente de sotão, refúgio de artistas. espreito, um rapaz às riscas de olhar observador, senhora de meia idade. devo entrar, esperar pelo professor com os meus novos colegas. mais duas raparigas no canto, camisola azul forte e umas madeixas, outra senta-se encolhida no chão muito branca toda de preto. boa tarde, consigo dizer, ao qual me responde afavelmente o rapaz às riscas sentado no banco. troca o apoio do pé, e lança-se descontraidamente ao aroma que vem do jardim. arranjo uma cadeira, pouso o bloco, a mala. pano de fundo - por do sol, crepúsculo, a luz bate nos ramos, nas vidraças escancaradas, recorta a silhueta do único prédio. sala de tecto alto, vigas que descem onde encaixam pastas de trabalhos, estante de metal carrega o peso de inúmeras caixas de material, paredes brancas de cal, um espelho engraçado.
a porta range suave, personagem alto, magro apresenta-se como nosso professor - é apenas um jovem poeta que também pinta. rosto agradável, óculos, e riscas desta vez laranjas, compõem o visual. desculpa-se pela falta de jeito com as palavras, quando começarmos a trabalhar de certeza que nos daremos bem, admite com um sorriso que foje. ah é verdade, sou o daniel, umas quantas palavras sobre o curso e pede-nos os nomes. francisco, diz o rapaz às riscas, segue-se a ana félij - belo timbre, falsete; franzo o sobrolho, sou eu, madalena - uff que nao repetiram helena, é o que me vale. márcia, julgo eu e a marta. é ainda o álvaro que entrou sem que eu desse conta, tio sorridente de camisa às riscas azuis e brancas, desta vez verticais. daniel, o professor, aponta uma tábuas, começamos a montar as mesas para depois nos sentarmos à volta. de tábuas e lápis em punho. nem sei como, pergunto, susurro sem hesitações, para o outro canto do estirador, não queres uma das minhas folhas, sorriso aberto, olhos grandes, o francisco agradece-me convictamente mas que já se arranjou, que o jovem professor não se zanga. estranho a minha atitude, costumo ser tão reservada, penso; ele parece concordar e mostra-me um sorriso embaraçado. presto atenção - daniel trouxe lenha, e o exercícico requer em que desenhemos os vários toros, desenhando-os recorrendo à memória do toque, do que é senti-los como se os percorressemos com o dedo, limitando-nos a observar meticulosamente cada pormenor das suas silhuetas sem nunca olhar para o papel. desenho cego, diriam alguns, remata. concordamos com a cabeça, que percebemos o exercicio. mãos ao trabalho,  afundamo-nos nos pensamentos, na tranquilidade, na paz, percorremos lentamente silhueta a silhueta, demoramos nos pormenores. horas de esticar as pernas, diz o professor. observo-os a decidir o rumo. as duas raparigas encostam-se à janela, olhando para o céu já escuro; olha que estranho, não te cheira a caril? arrumo a cadeira, sigo pelo corredor e espreito para a minha sala preferida - a dos cavaletes; também andas em pintura? - pergunta ana félij ao francisco. a conversa não é contigo madu; volto à sala e percorro as etiquetas das várias pastas - manuel pinho, maria costa, maria francisca, e logo me lembro da minha pequenina, meu pintainho, que iria adorar estar ali; segue-se o pedro ramos, carlos santos, isabel silveira.
volto ao corredor, álvaro bebe de um café que preparou, daniel e ana félij encostados a uma parede ouvem francisco que conta: estou nesta escola à 2, 3 anos, ando na faculdade a tirar arquitectura, este curso desanuvia-me totalmente a cabeça, faz-me muito bem. sorrio, tem ar de quem é muito bom amigo.
está na hora de voltar, diz daniel, regressando à sala. o exercicio é o mesmo, apenas com novos objectos. mergulho nas voltas e reviravoltas do meu pulso, linhas que me embalam para lá e para cá. inspiro o ar fresco que vem da noite lisboeta, sabe tão bem estar ali, encontro, refúgio, terapia de artistas.

sexta-feira

já iam a tempo de aprender que se não atendo o telefone, telemóvel ou raio que o parta, é mesmo porque não quero. estou chateada, triste, indiferente, e por isso não quero mesmo atendê-lo. sim, é para ti,  pessoa teimosa e surpreendentemente irritante que está aí por trás, não tentes outra vez. não queiras que o atenda. esquece, larga e deixa respirar quem precisa. eu hei-de voltar. mas agora não.

quinta-feira

olhou, mas não viu. continuou, não parou. passos ouvem-se. tac tac tac tac tac. cores quais setas, feixes de luz trespassam-me. não sinto o céu, não sinto o chão. reflexos. tac tac tac tac. o toque dos dedos gelados na testa.



agora respiro. acordo